sábado, 10 de setembro de 2011

Revista Veja - Paginas amarelas 09 de junho de 1993

O RACISMO CÍNICO
O líder do Olodum diz que democracia é um conceito usado para favorecer os brancos e acha que o racismo no Brasil é pior que na África do Sul 
João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum, O mais famoso grupo de música afro baiana, é um brasileiro empenhado em mudar as estatísticas. Negro, nascido em um bairro pobre da periferia de Salvador, acredita que a cor da pele não pode continuar a ser parâmetro de pobreza e riqueza no Brasil. Baseado em dados do IBGE. Rodrigues diz que a população negra brasileira, de 70 milh_es de pessoas, é a segunda maior do planeta, inferior apenas à da Nigéria. Apesar de tão numerosos, os negros brasileiros são mais pobres que os brancos, com renda média 41% menor, e há entre eles duas vezes mais analfabetos. "É preciso acabar com a idéia de que no Brasil se vive uma democracia racial", diz Rodrigues. "É um conceito hipócrita, usado para encobrir privilégios dos brancos."
Rodrigues foi empacotador em supermercados, operário do Pólo Petroquímico de Camaçari e hoje, aos 36 anos, estuda Direito. Solteiro, pai de quatro filhos, é o principal porta-voz da causa dos negros no Brasil depois de fundar o Olodum, em 1979, que se tornou mundialmente famoso ao gravar um disco com o compositor Paul Simon. Rodrigues não toca nenhum instrumento e não canta. Seu trabalho é administrativo. O grupo batalha para melhorar as condições de vida dos negros em Salvador. Entre suas atividades paralelas estão a restauração do Pelourinho, o Centro Histórico da capital baiana, uma escola para crianças negras e uma fábrica de Carnaval, que empregará 350 pessoas. Na semana passada, o Olodum fazia sua quarta turnê no exterior, com shows nos Estados Unidos, no Japão, na Austrália e em outros oito países na Europa. Na quinta-feira, Rodrigues embarcou para os Estadus Unidos. Foi participar de um seminário sobre a identidade africana promovido pela entidade negra americana Transafrica Forum. "Nossa incubência lá fora não é só cantar e dançar", afirma. "É mostrar a gravidade do problema do negro no Brasil."
Veja - O Brasil é um país racista?
Rodrigues - O Brasil faz de si próprio duas imagens distintas. Uma, que lhe agrada, diz que o país é democrata, branco e pode dar certo. A outra, que não lhe agrada, irrompe todos os dias na imprensa. É a dos pobres, dos tiroteios na Zona Norte do Rio de Janeiro, das favelas de São Paulo e Salvador. Seus protagonistas são mostrados como um bando de miseráveis que não tem condição de progredir. A sociedade quer acreditar no Brasil europeu, loiríssimo, que está nas propagandas de cigarro e de geladeira. Nessa perspectiva, lugar de negro é no noticiário policial, de esporte ou nos programas de música, mas nunca na seção de economia ou política.
Veja - Gilberto Freyre, o autor de Casa Grande & Senzala, defendia a existência de uma democracia racial no Brasil. Esse conceito está errado? 
Rodrigues - Gilberto Freyre, um branco, criou uma lógica infernal quando inventou um senhor de engenho bonzinho, que fazia amor com as negras escravas e tinha filhos mestiços que eram bem-tratados. Previu que o Brasil em breve se tornaria um país mestiço. Usou a lógica aparente, ignorando que o encontro entre a escrava e o senhor era por meio do estrupo, numa relação em que um dos lados podia tudo. Não viu que os filhos das escravas eram tratados como escravos e podiam ser vendidos. Se existisse tratamento digno, hoje haveria mestiços bem-colocados na sociedade. E não há. O erro de Gilberto Freyre foi concluir que o racismo acabaria porque não haveria mais negros, só mestiços. 
Veja - Os brasileiros não gostam de falar em racismo?
Rodrigues - Esse problema choca o cinismo histórico do país e a imagem puritana que a sociedade faz de si própria. Cada vez um negro denuncia essa situação ele passa a ser visto como um agressor da sociedade que está trazendo  idéias alienígenas. A questão é que o censo do IBGE mostra que os pardos e negros são 44% da população. Isso nos torna o segundo maior país negro do mundo, com duas vezes a população negra americana. Só a Nigéria tem mais negros que o Brasil. As estatíticas também mostram que os negros são mais pobres, vão menos à escola e têm menos oportunidades de emprego. 
Veja - No Brasil nunca houve nada parecido com os quebra-quebras de Los Angeles no ano passado ou com violência nos bairros negros da África do Sul. Isso não é um bom sinal? 
Rodrigues - No Brasil existe tanto conflito racial quanto nos Estados Unidos ou na África do Sul, mas fingimos que se trata de outra coisa. Do lao dos negros, a violência se manifesta no arrastão e nos saques a supermercados. Do lado dos brancos, através do assassinato de meninos de rua, da tortura policial e dos esquadrões da morte. Nesse caso, é uma violência tão institucional e sistemática quanto a da Ku Klux Klan. 
Veja - Então o senhor acha que o racismo no Brasil é pior que o da África do Sul?
Rdrigues - Na África do Sul havia um racismo menos hipócrita que o nosso. A legislação dizia claramente como o apartheid funcionava - branco no lugar de branco, negro no lugar de negro. No Brasil é diferente. Há um muro invisível separando negros e brancos. O apartheid existe sem uma lei escrita. O conceito de democracia racial pressupões que os negros sabem qual é o seu lugar, que não é o mesmo lugar do branco. Por incrível que pareça, a situação hoje na África do Sul é muito mais favoravel aos negros que no Brasil. 
Veja - Mas como? 
Rodrigues - O que facilita tudo na África do Sul são as press_es internacionais. Hoje o mercado mundial quer ver aqueles milh_es de negros consumindo. No caso brasileiro a sociedade faz um esfoço ancestral para que os negros não possam comprar geladeira, máquina de lavar, telefone, carro. Na televisão, modelos negros são usados apenas em mensagens do serviço público destinadas a orientar sobre Aids e cólera. Os anuciantes parecem pensar que só brancos compram carros, perfumes ou roupas. Quer-se manter o negro pobre e ignorante para que possa ser mão-de-obra barata e não busque espaço. 
Veja - A vida de um branco pobre no Brasil é melhor que a de um negro pobre? 
Rodrigues - Os dois têm uma vida igualmente ruim, com a agravante de que a maioria dos pobres é negra. Assim, o preconceito contra a pobreza é também preconceito racial, porque a maior parte de suas vítimas é negra. O negro pobre é duplamente discriminado. Quando se fala em violência no campo. convém lembrar que a maioria dos posseiros e camponeses mortos por pistoleiros é negrra e mulata. Mas brasileiro sempre dá um desconto. Condena a violência, mas ignora seu componente racial. 
Veja - No Brasil nunca houve nada parecido com os quebra-quebras de Los Angeles no ano passado ou com a violência nos bairros negros da África do Sul. Isso não é bom sinal?
Rodrigues -  No Brasil existe tanto conflito racial quanto nos Estados Unidos ou na África do Sul, mas fingimos que se trata de outra coisa. Do lado dos negros, a violência se manisfesta no arrastão e nos saques a supermercados. Do lado dos brancos, através do assassinato de meninos de rua, da tortura polícial e dos esquadrões da morte. Nesse caso, é uma violência tão institucional e sistemática quanto a da Ku Klux Klan. 
Veja - Então o senhor acha que o racismo no Brasil é pior que o da África do Sul? 
Rodrigues - Na África do Sul havia um racismo menos hipócrita que o nosso. A legislação dizia claramente como o apartheid funcionava - branco no lugar de branco, negro no lugar de negro. No Brasil é diferente. Há um muro invisível separando negros e brancos. O apartheid existe sem uma lei escrita. O conceito de democracia racial presupões que os negros sabem qual é o seu lugar, que não é o mesmo lugar do branco. Por incrível que pareça, a situação hoje na África do Sul é muito mais favoravel aos negros que no Brasil.
Veja - Mas como?
Rodrigues - O que facilita tudo na África do Sul as pressões internacionais. Hoje o mercado mundial quer ver aqueles milhões de negros consumindo. No caso brasileiro a sociedade faz um esforço ancestral para que os negros não possam comprar geladeira, máquina de lavar, telefone, carro. Na televisão, modelos negros são usados apenas em mensagens do serviço público destinadas a orientar sobre Aids e cólera. Os anunciantes parecem pensar que só brancos compram carros, perfumes ou roupas. Quer-se manter o negro pobre e ignorante para que possa ser mão-de-obra barata e não busque espaço. 
Veja - A vida de um branco pobre no Brasil é melhor que a de um negro pobre? 
Rodrigues - Os dois têm uma vida igualmente ruim, com a agravante de que a maioria dos pobres é negra. Assim, o preconceito contra a pobreza é também preconceito racial, porque a maior parte de suas vítimas é negra. O negro pobre é duplamente discriminado. Quando se fala em violência no campo, convêm lembrar que a maioria dos posseiro e camponeses mortos por pistoleiros é negra e mulata. Mas o brasileiro sempre dá um desconto. Candena a violência, mas ignora seu componente racial. 
Veja - Como se poderia resolver o problema do racismo no Brasil?
Rodrigues - A sociedade brasileira tem de enfrentar o problema do racismo com urgência. Isso é tarefa de duas ou três gerações. Na África do Sul, os africanderes, como são chamados os brancos descendetes de colonizadores holandeses, viram que tinha de abrir sua sociedade ou iriam falir. Lá, as coisas estão evoluindo bem. O modelo branco brasileiro também precisa mudar. Ou pode haver uma rebelião. 
Veja - É possível resolver o problema racial através de mudanças na legislação? 
Rodrigues - Não, a questão racial é um problema de cidadania. Uma alternativa é o trabalho que o Olodum tem feito na Bahia. A restauração do Pelourinho é parte da busca de nossa identidade histórica. Nossa escolinha reforça a escola convencional e ensina os garotos pobres a ter orgulho de sua própria cor e a lutar por uma oportunidade de ascensão social. Nosso modelo não tem por base o lamento a violência. É baseado na educação e na cidadania. O racismo compõe-se dos complexos de superioridade do branco e de inferioridade do negro. No que nos diz respeito, podemos trabalhar para destruir o segundo, que faz o negro entrar perdendo até numa de dominó. Na fila do banco, ele procura o último lugar porque acha que é aquele o lugar dele. No Brasil, por mais estranho que pareça os negros têm preconceito dos próprios negros. 
Veja - Que tipo de preconceito?
Rodrigues - Há toda uma cultura dizendo que o negro é ruim, é sujo e que o branco é bom. Essa associação está no inconsciente coletivo, no qual se incluem os negros. Você dis "meu dia foi negro" porque houve uma catastrofe, um avião explodiu, um carro caui do penhasco. 
Veja - Que diferença existe entre o negro brasileiro e o americano?
Rodrigues - Quando estive na Filadélfia, vi negros tão pobres quanto em qualquer gueto brasileiro. Mas a possibilidade de ascensão de um negro nos Estados Unidos é muito maió que aqui. O pastor negro Jesse Jackson disputou as eleições presidenciais. O general Colin Powell, comandante das Forças Armadas, é negro, há cientistas negros na Nasa, um juiz da Suprema Corte é negro, muitos e muitos prefeitos são negros. No Brasil, a nossa participação política é mínima. Não há negros nos ministérios, nos altos escal_es. Das câmaras municipais  aos apresentadores de TV, a predominância da elite branca é absoluta.
Veja - Os Estados Unidos tratam melhor seus negros que o Brasil?
Rodrigues - Nos Estados Unidos há uma lei que compensa os negros, as mulheres e os hispânicos na competição com outros setores da sociedade, no acesso à universidade e ao emprego. Usou-se um raciocínio segundo o qual, para que todos possam participar da democracia, é preciso tornar a disputa mais justa. Uma pessoa que trabalha de dia e estuda à noite, como ocorre com a maioria dos negros e hispânicos, não concorre em igualdade de condições com outra que vem de uma família estabilizada há três gerações, aprendeu línguas e escolheu a escola em que estudou. 
Veja - Os negros americanos estão preocupados com a situação dos negros brasileiros?
Rodrigues - Não, mas isso pode mandar. Eu estive nos Estados Unidos recentemente e vi um pôster intitulado "Os heróis negros das Américas". Não havia um único brasileiro, venezuelano ou colombiano entre eles. É importante que a comunidade negra americana saiba sobre Zumbi dos Palmares, o líder da resistência negra no período colonial brasileiro. Existe muitas barreiras separando o movimento negro brasileiro do americano. Além da berreira linguística, existem as religiosas. Muitos negros americanos têm formação protestante e não entendem, por exemplo, o Carnaval, uma manifestação cultural dos negros e das sociedades católicas. 
Veja - As duas lideranças mais expressivas do movimento negro americano nas últimas décadas foram Martín Luther King, pacifista, e Malcolm X, que defendia o uso da violência. O senhor se identifica com algum deles?
Rodrigues - O movimento negro tende a ser pan-africanista. Aceitamos o pensamento de Martin Luther King, Malcolm X, Nelson Mandela, Agostinho Neto, Marcus Garvey, Bob Marley, Haile Selassie. Pessoas que nos últimos séculos deram o passo da consciência negra transnacional, que se alimenta de outras idéias. Nossa convivência com prostituição, drogas e criminalidade no bairro do Pelourinho é muito semelhante à de Malcolm X. Mas, quando Eusébio Cardoso, um dos nossos diretores, recebeu um tiro de escopeta da polícia, usamos as táticas de não violência de Luther King para protestar.
Veja - Os negros não gostam de ser classificados como negros?
Rodrigues - É, a própria metodologia estatística usada pelo IBGE para classificar as raças no Brasil contribui para isso. Nos Estados Unidos, se você não é branco, é negro e pronto. No Brasil acontece o inverso. Cabem aí o mulato, o sarará, o pardo, o escuro, o queimado de sol, e por aí vai. Se você é negro como os africanos, você pode ser pardo, já-táchegando, mas nunca preto. Pessoas que seriam negras nos EUA ou na África do Sul agem como se fosse brancas aqui, embora os brancos ainda as tratem como negros. Um cientista social americano tentou descobrir o que é um pardo. Descobriu 138 tipos de definição. Se o censo incluísse apenas brancos, preto e amarelo, o indivíduo que se julga pardo se diria branco. Nelson Mandela, no Brasil, seria pardo ou moreno. 
Veja - Há um problema de identidade com os negros no Brasil?
Rodrigues - Não é só estatística. Não existe no país uma identidade histórica negra. Os livros escolares do negroos pontos de referência em que ele poderia apoiar-se. O Brasil teve uma série de revoltas e movimentos de libertação durante o período colonial e o império. Muitos deles não entraram para a Hirtória, porque eram revoltas de escravos ou libertos. 
Veja - Quais revoltas não entraram para a História?
Rodrigues - No mesmo período em que Tiradentes pregou a independência e o não pagamento da derrama, houve na Bahia a Revolta dos Búzios, que terminou com quatro negros enforcados. Eles queiria independência, república, abolição da escravidão e salários iguais para todos. Foram mortos pela Coroa portuguesa e não são heróis nem na Bahia. Propunham igualdade salaria, mas a História oficial diz que o sindicato chegou aqui junto com os imigrantes europeus, no início do século. O país não vê que a independência exigiu uma guerra contra o Exército colonial português. Ela foi vencidaem Salvador no dia 2 de julho de 1823, mas essa data não é feriado. Porque quem ganhaou a guerra foi uma leva de negros e índios, certos de que, depois da independência, como os senhores haviam promitido, seriam livres e teriam terra. 
Veja - Por que a ausência desses fatos nos livros de História piora a situação dos negros hoje?
Rodrigues - Porque a ignorância leva as pessoas a tomar decisões contrárias a seus interesses. No plebiscito, por exemplo, alguns negros chegaram a ir à televisão para defender a monarquia, o mesmo sistema que durante 388 anos se aproveitou da escravidão. Qual a chance que um negro teria de ser rei ou rainha? Nenhuma, evidentemente. A falta de informação sobre o passado aumenta o complexo de inferioridade racial. Há vinte anos os livros escolares davam a entender que os negros, quando chegaram ao Brasil, eram pouco mais que macacos que viviam em árvores, não sabiam ler nem escrever. No entanto, o Egito, que foi uma grande civilização na Antiguidade, é um país negro. As tribos africanas tinham tradições orais e escritas. Possuíam técnicas de irrigação altamente desenvolvidas, ainda hoje usadas no mundo inteiro, até no Rio São Francisco. 
Veja - Há pouco tempo, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto propôs a retirada da palavra mulato dos dicionários, alegando que ela tem uma conotação racista. Atitudes como essa contribuem para resolver o problema racia?
Rodrigues - Não, isso é bobagem. A palavra mulato, derivada de mula, tem de fato uma conotação racista e pejorativa, mas não adianta tirá-la dos dicionários. O problema do racismo é excluir grandes multidões das oportunidades de ascensão social. 
Veja - No ano passado, o Olodum animou um comício de Paulo Maluf em São Paulo, depois se arrependeu e devolveu o cachê. O que aconteceu?
Rodrigues - A banda estava voltando da Europa e o show foi feito contra a nossa vontade. Parte da diretoria aqui assinou o contrato, mas o restante foi contra. Decidimos não tocar, fomos pressionados e acabamos tocando.
Veja - Que problema há em uma banda animar comício de Maluf?
Rodrigues - O Olodum não pode se vincular a pessoas e instituições que contribuem para a miséria, o racismo, a opressão. Temos de trabalhar com quem quer o progresso/. Os trabalhadores, os que atuam contra o racismo. Participamos  da campanha de Benedita da Silva, no Rio, porque achamos que seria importante. Não cobramos nada por isso.
Veja - Com que tipo de sociedade o senhor sonha para o Brasil? 
Rodrigues - Não queremos uma sociedade só para os negros. Queremos um poder que seja de todos, que a maioria tenha voz. Quando os negros se conscientizarem de que a questão racial é importante, vamos assistir ao despertar de um enorme leão. Quando a comunidade negra se levamtar para lutar pelo seu espaço, o Brasil dará um exemplo para o mundo.
"Há um muro invisivel separando negros e brancos no Brasil. É um apartheid sem uma lei escrita"
"O Brasil não vê que a independência exigiu uma guerra contra o Exercito colonial de Portugal. A guerra foi vencida no dia 2 de julho de 1823, mas essa data não é feriado. Porque quem venceu a batalha foi uma leva de negros e de índios, certos de que, depois da independência, seriam livres e teriam terra"
Entrevista, VEJA - 09 DE JUNHO,1993

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