segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Os filhos do sol nascente - Por Joao Jorge 1990

OS FILHOS DO SOL NASCENTE
Vim pelas praias, navegando ao sabor dos ventos, e das calmarias, quando vi sinais de terra a vista e “descobri” um  porto seguro. Homens e mulheres Tupi/Caraíbas/Iês vieram nos receber com flores e presentes demo-lhes tiros, morte e tragédia, ainda assim não satisfeito fui a África homens e mulheres que transformei em escravos e negros, para junto com “irmãos” degredados do último reino de um continente inculto chamado de Europa, construir uma nação chamada Brasil.
Aqui cresci, virei carurú, vatapá, efó, aprendi a colher o cacau, e a viver na rede, a jogar bola, a cantar e a sorrir, a fazer rebeliões: Quilombos, búzios, Malês, Maias, Astecas, incas, parcelas amerindas de uma mesma história, Tupinambás, Gês, Guaranis.
lutando contra a força das armas, com amor a terra, ao sol, a natureza águas do rio correndo para o mar, águas do mar correndo para virar as nuvens, que quando transformam-se em águas que molham a terra, como se fora um ciclo do Sol, das Águas, formando homens e mulheres Yeme ou mãe das águas, Yemanjá que frutificou muitos filhos (Orixá) que espalharam-se pelo mundo através dos oceanos.
O Sol estrela de quinta grandeza parte da via láctea, símbolo masculino da criação, acasalou-se com a terra símbolo feminino da criação, é antecipado pela noite com as estrelas brilhando como pequenos pontos no infinito. O Oceano é a minha morada, eterno túmulo de heróis, de memoráveis batalhas travadas pela liberdade, de um lado escravocratas, de outro lado pessoas em fuga contra o cativeiro, jogando-se ao mar dos navios tumbeiros, que infestavam a costa da Bahia para trazer a sua carga humana, filhos D’África para construir uma nação que jamais partilhamos.
Assim sendo, eu sou o início, eu sou o meio, eu sou o fim, sou o Alfha, o Beta, sou o Omega, e renascerei sempre que o mar devolver meu corpo, minhas cinzas, para vocês das ruas pensarem e devorar.
Mas eu voltarei, como se fora uma onda, um dilúvio, um vendaval, um furacão, e arrancarei dos teus corações toda a maldade do mundo, e levarei a sua natureza com o bom humor dos tupinambás, e semearei o verde da mata Atlântica no coração da esperança, símbolo do que eu acredito. Voltarei quantas vezes necessárias, como Osíris, como Ísis, como Akaenatom, como Tutancamom, como Ranavalona, como Antônio conselheiro, como lampião, como Tupamrc, como Che Guevara, como Montezuma, como Marcus Garvey, como Kwame N’Krumanh, como Bob Marley, como Almir Cabral, como Samora Marchel, como Agostinho Neto, homens e mulheres do Mar, da liberdade, da luta, por tudo isto é que: Eles não passaram - a vitória é certa - a luta continua.
João Jorge - 11.500 anos depois da submersão da Atlântida, em um dia de 1990.

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