domingo, 6 de novembro de 2011

Alpha Blondy - Deus

ALPHA BLONDY
DEUS
Em 1986 na cidade sagrada de Uidah no Benin antigo Daomé, encontrei numa feira, um vendedor de fitas e discos, com uma fita cuja capa trazia uma foto de Alpha Blondy sentado sobre um vasilhame de óleo, e com a inscrição “Apartheid is Nazismo “ . Começava ali o namoro do Olodum com a melhor parte da música africana, a moderna  e combativa música do começo do mundo, da ancestralidade africana, aos delírios dos jovens urbanos de Lago, Cotonu, Luanda, Brazzaville, as metrópoles coloniais das potências européias.
Vim da África com a música de Alpha Blondy na bagagem, mostrei animado a algumas pessoas no Olodum, e logo elas viraram a cara, não era o som de Bob  Marley, não era a música axé da Bahia, nem era a música light dos americanos, era o reggae pesado da denuncia, da militância negra, da anti-violência, era o chamado das consciências adormecidas. Apesar do desinteresse inicial continuei insistindo para que as pessoas do Olodum e a negritude baiana escutassem este fenomeno africano musical. Tocamos Alpha Blondy nos programas de rádios em Salvador, na Casa de Olodum.
Voltei á África á Angola e ao Senegal e lá estava, cada vez mais, a presença de Alpha Blondy, novos discos, novos hits, sendo em 1988 um grande sucesso, “ Jerusalém “,  uma música celestial que chamava Árabes e Judeus, para a paz, e parar com a Guerra, gravado com a banda de Bob Marley - The Waileres, e aos poucos o reggae de Alpha Blondy foi conquistando os corações mais duros, e penetrando na alma de todos os povos, fazendo dançar e descobrir a nova consciência negra, e humana.
Os seus shows no mundo inteiro são símbolos de sucesso e êxtase. O disco live gravado ao vivo em Paris, no Zenith, é um encontro das forças cósmicas, com a alegria  de viver. Alpha Blondy tem 41 anos e nasceu na Costa do Marfim, antiga Costa dos Escravos. Viveu em New York, e tem como base de atuação a cidade de Paris na França. Alpha Blondy tem muito em comum com o Olodum , a luta política por um mundo melhor, a dureza da música militante, o apego a modernidade africanista, a valorização da história e da identidade negra, e a mesma facilidade de despertar raiva nos racistas que não desejam ver os negros vivendo em um mundo melhor. 
Até os atentados a bala, são comuns a Alpha Blondy e ao Olodum. As cores da libertação africana, a mistura da fé islâmica, com o rastafarianismo, as religiões tradicionais africanas misturam-se em liqüidificador ecumênico, o gesto ousado, a palavra afiada, a música dilacerante,  contribui para a elevação espiritual de milhões de pessoas em todo o Mundo, que se libertam da inconsciência, e da opressão.
É por estes motivos que temos o maior orgulho de receber na Casa do Olodum, uma das mais importantes personalidades da África viva, que é Alpha Blondy. A Casa do Olodum, um poderoso símbolo da cultura Afro-Brasileira, vai estar radiante como o Sol, quando o cometa Alpha Blondy estiver dando os primeiros passos nas escadas para o Auditório Nelsom Mandela.   A mesma Casa que já recebeu Linton Kewsi Jonhsom, Mutabaruka, Jymmy Cliff, Paul Simon. O mesmo grupo que já recepcionou o Bispo Desmond Tutu, que já recepcionou Nelsom Mandela terá agora a honra de receber um irmão da luta, e da dignidade.
A Bahia que há tanto tempo não recebe personalidades mundiais, escondida no próprio umbigo. A Bahia será momentaneamente a Tróia Negra, a Roma negra, a Jerusalém negra, a capital espiritual e civilizatória dos dois bilhões de africanos dispersos pelo novo mundo e pelo velho mundo. Que bom que a unha de Deus está de volta, e vai passar por aqui, para iluminar as nossas cabeças, e os nossos corações.
João Jorge – 
Presidente & Diretor  de Cultura

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