terça-feira, 19 de outubro de 2021

A Casa do Olodum - A resistência ativa 1991 - 2021

Roda de Dialogos - Um discurso sobre a igualdade. João Jorge

O povo Dogons um povo das Estrelas.

Visita de Heloisa Marcondes ao Olodum ... Rio Bahia

Uma visita de Aline e Bianca do Rio com o conselheiro Persega.

Escola Olodum 38 anos - Um coração da educacao afro brasileira no Brasil.

Escola Olodum 2021 - 38 anos educação afro brasileira.

A Lua de Sao Jorge em Salvador Bahia.

domingo, 21 de março de 2021

Caminhe para chegar ao mar ...


 

Paul Simon em 1991 com o Olodum no Central Park CDMO


 

Que venha uma boa semana.


 

O Direito Constitucional e a luta contra o Racismo.

 

Racismo estrutural x Ações afirmativas 2020

 

 

 

 

 

 

 

‘’O racismo estrutural, as políticas de ações afirmativas e o que que o movimento negro deve fazer para ser contemporâneo de si mesmo. Óbvio que tudo começa com a movimentação nos Estados Unidos ,agora com a morte de George Floyd, mas é algo que vêm acontecendo sistematicamente na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo...E dentro do próprio Estados Unidos isso vem acontecendo porque a polícia precisa praticar atos de violência para intimidar a população negra ou diferente. ‘’

João Jorge Santos Rodrigues

 

 

 

 

 

 

 

Hanka Nogueira: ‘’Hoje vem se falando muito do racismo estrutural, parece que é um tema novo, porém, sabemos que não é. Nós temos um caminho trilhado e se trilhando através do direito, através do Estado democrático de direito e sabemos que para se manter uma democracia fortalecida não podemos abrir mão de uma luta antirracista, antifascista e tudo ou todas essas sequelas que temos na nossa sociedade.Então, eu gostaria de uma explicação bem breve do que vem a ser esse racismo estrutural que tanto se comentam como se fosse algo novo.’’

João Jorge: ‘’Bem, o racismo estrutural é a forma pela qual uma sociedade se organiza para impedir que certos grupos humanos participem das suas riquezas, e as vezes se organizam pela cor da pele, pela cultura ou pela história. O racismo estrutural existe há muito tempo, passando pelo Egito, Grécia, por Roma, passou pela cultura geral da Índia, da China e do Japão... E nos anos 70 voltou a ser muito falado, principalmente, pelas lideranças africanas nos países de língua portuguesa; Samora Machel, Amílcar Cabral, Agostinho Neto.

 

E era também uma fala muito comum de Mandela sobre como a África do Sul estava estruturado em cima do racismo... não era apenas um país capitalista, era um país capitalista e racista. Esses países são: Brasil, é um país racista e capitalista. Estados Unidos é um país racista e capitalista. A Austrália é um país racista e capitalista. Israel hoje é um país racista e capitalista. Porque esses países se organizam estruturalmente de forma que o outro não possa acender economicamente/socialmente a nível de trabalho, de renda, de moradia, e de direitos fundamentais.

 

Essas sociedades até falam que praticam a sociedade de estado de direito ou sociedades democráticas, mas foram, por exemplo, os afro-americanos quando voltaram da segunda guerra mundial questionados se poderiam entrar ou não na padaria na lanchonete; ‘’lutei pela democracia, por nosso país, e aqui a piscina é diferente, o lugar no ônibus é diferente...’’. Então o racismo estrutural é algo que ele vem sendo descoberto desde os anos 40, um momento depois da segunda guerra mundial, mas também foi muito falado na libertação africana de vários países. E no Brasil, os principais líderes disso foram, Abdias do Nascimento e Léila Gonzalez.

 

Olha, a questão não é só individual, a questão é coletiva, é da comunidade, é do conjunto de pessoas que formam a negritude, que formam a população indígena, que formam os ciganos... E que são desprezados pela estrutura que se montou. Então, o racismo estrutural é assim: O Brasil, 520 anos, dos quais 388 anos dedicados a escravidão da população africana e um conjunto de leis criadas no Brasil Colônia, Brasil Império e Brasil Republica, que deixou à margem a população negra que hoje é mais de 52% da população. Então, esse racismo impede a ascensão econômica, você não tem ascensão econômica – impede ascensão educacional, você não tem acesso aos cursos públicos de graduação, mestrado e doutorado, impede o programa de bolsas internacionais, impede de ser prefeito, governador, senador e de ser presidente.

 

Porque é fácil a pergunta: ‘’Ah, o movimento negro brasileiro não luta pra chegar ao poder’’, nós estamos na luta mais ativa que tem no planeta terra hoje, é a luta do movimento negro brasileiro. Estamos aqui desde 1500 com Cabral, desde 1549 quando Salvador foi fundada já com africanos sendo trazidos por Portugal, e ainda sim, temos sobre nós um poder colonial enorme! Vejamos o caso de Salvador com 3 milhões de habitantes, 82% da população descendentes de africanos, a brutalidade que nos temos de 163 bairros, a maioria tem o IDH próximo aos países mais pobres do mundo... Então, o racismo não é a cor da pele, não é o cabelo, não é você, Hanka, não é aquela mulher preta ou negra, o racismo é como você estrutura para aquele povo não se libertar. Nós tivemos o Brasil Colônia, Brasil Independente e Brasil Império com filho de português governando o país, Brasil Republica, com militares governando o país... E por quê que nesses 520 anos a população negra não está nos 27 estados? Na prefeitura? No senado? Por causa do racismo estrutural.

 

Quando se compara o Brasil com os Estados Unidos observamos o seguinte, os Estados Unidos têm uma população negra ativa mas tem a sociedade ativa também contra o racismo. As ações afirmativas dos Estados Unidos avançaram, fizeram as empresas vê que era bom, fizeram o sistema do governo vê que era bom, as universidades passaram a ver que era bom.

 

É obvio quando você iguala as oportunidades tem um setor que diz: ‘’Não, espera aí, não pode ser assim não porque está tirando do meu’’. Eu quando fiz o mestrado em Brasília, terminei pesquisando muitas defesas de moradores de Salvador contra as cotas na UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e começava com o pai dizendo assim: ‘’Eu, fulano de tal, branco, morador de tal bairro de Salvador, preparei os meus filhos para ir para a universidade pública e agora vem essa tal de lei de cotas que tira o lugar dos meus filhos.’’ o vestibular nunca garantiu lugar de ninguém, o concurso público não pode nunca garantir o lugar de ninguém, mas estruturalmente é feito para que certas pessoas não tenham oportunidade.

 

No Brasil, os únicos lugares que o racismo estrutural não afetou sobremaneira são no futebol e na música. Na seleção brasileira você tem Garrincha, Pelé, tem diferentes nomes pretos ou mestiços, temos 5 títulos mundiais de futebol. E na música, você consegue ter alguns expoentes que conseguem passar por esse filtro nervoso do racismo estrutural.

 

Então racismo estrutural é a negação de oportunidades e igualdade em uma democracia que assenta e se organiza para dar privilégios a uns e tirar a igualdade de outros. E como é que isso acontece? Via o que? Via administração pública, via educação, via religião oficial do Estado e via comunicação social. Então, quando a gente está falando, hoje, de racismo estrutural não estamos falando porque ouvimos falar fora do Brasil, estamos falando a realidade da Bahia em Salvador, na festa de Santa Monica, como a polícia abordou essa semana, nos tiros que matam jovens e mulheres na favela do Rio de Janeiro e São Paulo e na falta de oportunidades.’’   

 

Hanka Nogueira: Queria que você fizesse uma explanação do que vem a ser política de ações afirmativas e como ela é pensada no mundo e no Brasil. E essas ações seriam o remédio para o racismo estrutural?

 

João Jorge: As políticas de ações afirmativas tiveram surgimento na Índia em 1947. Logo que se tornou independente a Índia teve que pensar em políticas para os dalits,  os dalits são os intocáveis, cerca de 150 milhões de pessoas que pelo hinduísmo  são considerados os pés da humanidade. Ghandi, por ter uma demanda grande teve dificuldade em lidar com a mesma, ainda sim, eles deram início a uma política de ação afirmativa na educação, na saúde e entre outras áreas. Seguidamente foi se espalhando entre Ásia, China e outros países asiáticos.

 

Mesmo sendo considerado uma república e um país ‘’democrático’’, os Estados Unidos não permitiam os direitos civis. Não permitiam igualdade nos ônibus, nas universidades, nas escolas de primeiro e segundo grau ou nas piscinas públicas. Esse movimento se iniciou com Rosa Parks, ao se negar ceder o lugar no ônibus acaba sendo presa e quem aparece como seu advogado é Martin Luther King. Além disso, em 1963, logo após a morte do presidente John Kennedy, o presidente Lyndon B. Johnson consegue realizar alguns atos de ações afirmativa nos Estados Unidos, que previa durante 50 anos empresas, governo, a sociedade como um todo, praticassem estas ações.

 

Uma das ações afirmativas mais conhecidas são a de cotas; cotas para universidade, cotas para emprego, cotas para empréstimo bancário..., mas existem diversas espécies de ações afirmativas, por exemplo, por exemplo o vale estudantil. Presumindo que os estudantes não podem pagar pelo transporte público ou arcar com o investimento, criou-se um modelo em que os estudantes paguem apenas 50% dos valores em espaços como ônibus e metrô. Assim como, a aposentadoria, calcula-se que alguém trabalha por 30 anos e não podendo trabalhar o resto da vida se reserva da sociedade valores para a aposentadoria.

 

 Ação afirmativa é quando reconhecemos uma desigualdade ou opressão e desenvolvemos ações que visam igualar, nivelar e aproximar as oportunidades. Essas ações são o que se tem de mais novo na política brasileira, ela precisa se estender aos partidos políticos, aos cargos de comissão de todo o país, as forças armadas, as todos os cursos superiores, na graduação, pós-graduação, nos concursos de professores...

 

Essas ações visam curar essa doença que os brasileiros tem de praticar o racismo contra índios, mulheres, negros, ciganos e uma população diferenciada. Sem as ações afirmativas não teríamos hoje o grande número de estudantes de origem africana nas universidades. A sociedade baiana, soteropolitana, brasileira, não vai se libertar do racismo estrutural sem ações afirmativas. As ações afirmativas são políticas de reparaçã



Direito Constitucional. Igualdade. Ação Afirmativa. Movimento Negro. Reparação.

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[1] live no instagram com Dr. Hanka Nogueira e o Dr. João Jorge.Dia 26 de junho de 2020 . Endereço no Instagram.

Dia internacional de luta contra o racismo 2021